Testes comparativos entre as rações tradicionais, formuladas à base de milho, e as que contêm farinha de palma se sucedem confirmando o que já é do conhecimento dos que vivem há vários anos fazendo acontecer o que será esta revolução. Cada um destes testes reconfirma que a farinha de palma substitui, de fato e com vantagens, o milho como fonte principal de carboidratos (energia) nas rações concentradas.
Os primeiros resultados já mostram um enorme potencial de redução de custos nas rações destinadas aos bovinos, ovinos, caprinos, suínos e aves. Especificamente no caso dos ruminantes, a palma pode ser consumida de duas maneiras. Primeiramente na forma de “farinha de palma” como fonte de energia em substituição ao milho e, adicionalmente, como “emulsão protéica” para ser utilizada no lugar da soja.
A palma vai ganhar espaço no semi-árido nordestino, o que vai permitir sua inclusão no circuito das regiões produtoras de carne. A proteína animal é um produto caro e, para ser produzido, ou ocupa grandes extensões de pastagens, ou utiliza enormes quantidades de milho e soja como componentes principais das rações utilizadas na avicultura, suinocultura, produção de leite e confinamento de ruminantes. As terras agrícolas têm preços crescentes e estão situadas dentro de fronteiras com expansão conhecida, tornando a proteína animal originária dos ruminantes um bem disputado no mundo. Pelo mesmo motivo milho e soja são comodities valiosas, também com custos altos e cotações em dólares. “Produzir carne, leite ou ovos utilizando trigo, milho, sorgo, farelo de soja ou de caroço de algodão não poderá nunca ser feito de forma barata, pois todas estas comodities agrícolas tem alto valor no mercado internacional”, sentencia o pecuarista do Rebanho Caroatá, Luiz Felipe Brennand”.
Por que cultivar a palma
Para Luiz Felipe, a produção de milho não deveria ser uma
atividade incentivada por governos, nem como atividade de subsistência. “Se a
produção da proteína de origem animal, a partir de grãos colhidos nos maiores
celeiros agrícolas do mundo - e portanto nos locais onde são cultivados pelos
menores custos - não resulta em proteína animal barata, imaginemos a que custo
poderemos fazê-lo, no semi-árido, com milho produzido localmente e colhido
somente três ou quatro vezes a cada dez anos? ”, questiona.
A palma forrageira, nome genérico de uma família de
plantas de cultura permanente – plantada, portanto, uma única vez a cada 20 ou
30 anos – foi trazida do México com finalidade comercial no início do século
XX.Foi a responsável principal pelo suporte alimentar das culturas pré-colombianas que floresceram naquela região, causando espanto e admiração aos espanhóis que lá desembarcaram. Multiplicadas por mudas caracterizam-se, principalmente, por serem pouquíssimo exigentes em água, conseguindo produzir um quilo de matéria seca por cada 100 litros de precipitação. Os capins da família dos “búfalos”, as menos exigentes das gramíneas, produzem o mesmo quilo de matéria seca com 300 litros.
O milho, o que mais depende de água, só produz um quilo de matéria seca se receber acima de mil litros, com o agravante de que esta quantidade precisa vir distribuída em determinadas etapas de seu ciclo vegetativo, sem as quais não produzirá. Por outro lado, a palma é completamente adaptada às baixas precipitações, respirando durante a noite para não perder água, diferentemente de outras plantas que o faz durante o dia. A sua própria forma – de raquete e nascida ereta – faz com que se exponha ao sol numa pequena superfície. O sistema de raízes, colocado nos primeiros 15 cm da superfície, captura o máximo da pouca água disponível.
Paraíba e Pernambuco dão exemplo
Normalmente a produção é encontrada em regiões do
semi-árido brasileiro com precipitações superiores a 400 mm. A região de
Cabaceiras, na Paraíba, é considerada uma das mais secas de todo o Nordeste.
Lá, a palma é encontrada de forma abundante e vem sendo cultivada com as mais
diversas e rudimentares técnicas agrícolas, com espaçamentos a partir de 5 mil
plantas por hectare.
Na Fazenda Lagoa do Cavalo, onde está instalado o Rebanho
Caroatá, a palma está sendo cultivada com uma lotação de 110 mil plantas por
hectare, submetida a um rígido controle agronômico, com a finalidade de servir
como campo de comparação a uma cultura de milho. Estão sendo utilizadas as
mesmas tecnologias atualmente empregadas nas áreas mais produtivas de grãos do
Sudeste ou do Centro-Oeste brasileiro. Nesta condição, o primeiro corte
realizado entre outubro de 2005 e janeiro de 2006 produziu acima de 300
toneladas por hectare, devendo atingir produções acima de 400 toneladas por
hectare a partir do segundo corte, no final deste ano.O zootecnista e especialista em nutrição animal, Alberto Suassuna, explica que essas 400 toneladas de palma se transformarão em 40 toneladas de farinha de palma após a secagem realizada ao sol. “Os 40 mil kg de farinha correspondem a 32 mil kg equivalentes de milho, quando comparados os carboidratos presentes nas duas amostras”, complementa. O especialista diz ainda que no Brasil e em outros países as ótimas áreas de cultura de milho produzem aproximadamente 10 mil kg por hectare. Com a palma, pode-se colher três vezes a produção de carboidratos do milho por hectare, todos os anos, nas adversas condições climáticas do semi-árido.
Farinha de palma
Por conter 90% de água quando colhida, o consumo da palma
se torna limitado. Para os animais receberem uma determinada quantidade de
carboidratos necessária à sua alimentação, precisam consumir dez vezes esta
quantidade, se a palma for fornecida in natura. Para ultrapassar esta
limitação, foi desenvolvida a farinha da palma.
Para o seu preparo, primeiro ela é colhida à mão, apesar
de já estarem sendo desenvolvidas máquinas capazes de fazê-lo nas grandes
áreas.Depois é levada a uma “fatiadeira” onde é cortada, dessa vez mecanicamente em fatias (como batatas fritas). Em seguida é levada a um pátio de secagem, semelhante a um terreiro de café, e é espalhada em uma camada de aproximadamente 10 cm. Permanece exposta ao sol durante cerca de quatro dias, para depois ser ensacada. A palma poderá ficar guardada em sacos até a época do consumo, ou ser ensacada depois de passar em um moedor, semelhante ao utilizado para produzir xerém de milho. E está feita a farinha de palma. Do mesmo modo que o milho, se for guardada por longos períodos, deve ser protegida do gorgulho.
Emulsão protéica feita de palma
Como qualquer outro farelo vegetal rico em carboidratos,
a farinha de palma, entre outros usos, pode servir de base alimentar para o
crescimento de microorganismos úteis, ricos em proteínas. Para isso é
necessário juntar com a farinha, diluída em água, fontes inorgânicas de nitrogênio,
fósforo e enxofre, além de farto suprimento de oxigênio. Na presença desse
nutriente, totalmente misturado, esses microorganismos são capazes de
sintetizar tudo o que precisam, multiplicando-se de forma acelerada.
Por isso foi possível desenvolver-se, ao longo dos
últimos dez anos, uma emulsão protéica (ou uma sopa), para alimentação animal,
feita a partir de 24 horas de fermentação do farelo de palma forrageira,
minerais e oxigênio, juntamente com uma pequena população inicial – inoculo –
desses microorganismos úteis.Um teste comparativo entre esta emulsão protéica e o farelo de soja, feito no campus da Universidade Federal da Paraíba, com o uso de cordeiros, não mostrou diferenças significativas em ganho de peso, conversão alimentar e rendimentos das carcaças no abate desses animais.
Desafio aos governos
O Rebanho Caroatá lança um desafio aos governos estaduais
do semi-árido: distribuir sementes de palma, em lugar das
sementes de milho, acompanhado de um trabalho de extensão rural, como forma de
criar uma produção sustentada de proteína animal na região, aumentando a renda
e melhorando a vida dos nordestinos.
Nota
O desenvolvimento e as melhorias agrícolas, introduzidas
na cultura da palma, que permitiram atingir-se em níveis tão altos de
produtividade, assim como o processo de fabricação de farinha de palma, devem
ser creditados ao trabalho incansável do zootecnista Alberto Suassuna, e são
tecnologia de domínio público. A produção da emulsão protéica, também
desenvolvida por Suassuna ao longo de uma vida dedicada à palma, e suas
utilizações, é uma tecnologia complexa e protegida por patente.
Informações adicionais poderão ser solicitadas pelo
e-mail albertosuassuna@hotmail.com
Visitas ao campo de palma da Fazenda Lagoa do Cavalo poderão ser agendadas pelo
e-mail de Alberto Suassuna ou pelo endereço revolucaodapalma@caroata.com.br,
aos cuidados de Maria Marinho.
Da redação do Site Caroatá
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